quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A vida pede socorro

por Dandara Morais

Rio Tapirapé agonizando
No município de Porto Alegre do Norte-MT, localizado na região nordeste do estado, a população está alarmada com a mortandade de peixe no Lago de Fora, formado pelas águas do Rio Tapirapé.

O Lago de Fora também conhecido como Lago do Zé campos, em Porto Alegre do Norte, fica em  uma Área de Preservação Permanente, APP, cerca de 300 metros de uma plantação de soja. Com a chegada da chuva, a enxurrada 
passa pela lavoura e deságua no lago, isso pode ser a causa da morte dos peixes. O agricultor aposentado, João Manoel, 83, morador do município desde 1961 relata que não viu nada igual na região.


A região do Baixo Araguaia sempre fora nutrida pelo comércio local e a agricultura familiar. Em 2001 a região começa a se transformar, a monocultura invade o cerrado, e os primeiros sinais de destruição vão aparecendo pouco a pouco. Migração do homem do campo para cidade, quem tinha o seu pedaço de terra para plantar o arroz, a mandioca, o feijão, a cana, a banana, vende ou aluga seu pequeno espaço para o cultivo da soja. A deusa do mercado.

Para manutenção da lavoura muitos cuidados, tratores de esteira para derrubar a vegetação nativa, grades para arar a terra, e aviões carregados de veneno são os novos habitantes da região.
Não se cerca a natureza

O lago de Fora, local de banho e de pesca, agora esta cheio de peixes mortos, eles bóiam sobre a água e João Manoel vai remando e dizendo “piau, tucunaré, mandi, cachorra, pacu, bicuda, cará”. É época de piracema, e estes peixes, provavelmente iriam procriar. O morador observa que a enxurrada é constante, e logo a água suja chegará ao rio Tapirapé, “Agora nego vai ficar “veiaco” na hora de comer peixe”. O rio Tapirapé é um dos principais afluentes do rio Araguaia, e abastece a cidade de Porto Alegre do Norte.


Porto Alegre do Norte, 21 de novembro de 2012.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Mutirão do Casadão na Fartura

por Dandara Morais

No ultimo sábado, 02, enquanto estudantes estavam em salas de aula por todo o Brasil, fazendo a tão esperada prova do Enem. Um grupo de agricultores e parceiros da região do Baixo Araguaia  pularam cedo da cama e começaram a "Muvuca". O Mutirão do Casadão, foi realizado no Sítio do Seu Anastácio, no Projeto Assentamento Fartura, em Confresa-MT.
                                                                                                                         
Trabalho em conjunto pra deixar as covas prontas
Muvuca, é o nome dado ao plantio de diversas espécies juntas.
Esse é o casadão, junta saberes e sabores, é a utopia saindo da mente e do papel, conquistando o solo, pra logo mais colher os frutos da agroecologia.

É o casadão enxada no ombro e muda no chão
Saberes de sábio para um futuro promissor 

União de famílias e forças, cabeças cheias de idéias e mãos calejadas, em busca da garantia da biodiversidade























Entre uma prosa e outra muita muda no chão
Vão misturando sementes, histórias e saberes. Da plantação até a colheita é muita coisa pra contar.  
Taturubá não dá em pé de pequi, por isso se planta de tudo por aqui














sábado, 20 de outubro de 2012

Será que um dia

Será que um dia...
Águia mais olhos que o Sistema
Rola-bosta enterrar mais que a guerra
Formiga cortar mais que DDT no Vietnã
Tamanduá-bandeira matar mais que navalha
Anta mais pesada que bala
Urubu cheirar mais que radiação
Caranguejeira engolir mais que lixo
Medusa mais sistêmica que veneno
Carapanã sugará mais que o estado
Caninana mais rasteira que a lei
Arraia-de-fogo com mais espora que Rei
Jacaré-açu morder mais que o latifúndio
Peixe-elétrico mais força que cartórios
Ariranha mais silêncio que cidades
Onça mais feroz que estradas
Lobo uivará mais que fábricas
Escorpião picar mais que dinheiro
Abelha ferroar mais que bancos
Minhoca digerir mais que crise econômica
Barata infectar mais que burocratas
Papagaio com mais letras que “datilografistas”
Cigarra mais cultura que a massa
Morcego mais marcas que as doutrinas
Lagartixa grudar mais que “ignorãça”
Camaleão mudar mais de pele que “herói”
Maritaca mais barulho que a mídia
Será que um dia...
em terra água, ar
Gente viver a vida!

(Iberê Martí)

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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Encontro Nacional de formação da CPT

Acontece em Luziânia- GO o Encontro Nacional de formação da CPT, entre os dias 17 e 20 de outubro. 
O tema do evento será "De onde vem e para onde vai o campesinato brasileiro" com uma perspectiva de segunda leitura: "De onde vem e para onde vai a CPT"
O Encontro reúne 70 agentes da CPT de todos os estados do Brasil, no Centro de Formação Vicente Cañas.
No primeiro momento do Encontro, os representantes dos regionais da CPT apresentaram um pouco da realidade das categorias sociais com as quais eles trabalham e acompanham na base, suas dificuldades, suas principais lutas e, também, suas conquistas e boas experiências comunitárias.


Com ajuda dos professores Jadir Pessoa, da Universidade Federal de Goiás (UFG), e Leonilde de Medeiros, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), os agentes da CPT estão refletindo sobre o processo de formação do campesinato no Brasil, suas particularidades e como esse processo se expandiu por todo o país. Amanhã, dia 19, o encontro terá a assessoria do engenheiro agrônomo e assessor da Via Campesina, Horácio Martins, para refletir o futuro do campesinato e a atuação da CPT nesse caminho.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Intercambio cultural: comunidade escolar e comunidade indígena



                                                                          
                                                                                                                    por Maria Benvinda e Justiniano Sales

No ano de 2011 entre os meses abril e novembro, foi realizado na cidade de Porto Alegre do Norte – MT o Projeto Intercambio Cultural, o objetivo do mesmo era ter uma visão geral dos Povos Indígenas.  Os professores de história, língua portuguesa e educação física da Escola Estadual Alexandre Quirino de Souza e as escolas indígenas do Povo Tapirapé - Tapi’Itawa - participaram da realização.
Foram feitas pesquisas bibliográficas e de campo, produção de texto, documentários e um intercambio cultural. Esse intercambio se deu por meio de visita dos alunos da escola Alexandre Quirino de Souza a aldeia Tapirapé, e em um segundo momento, os alunos indígenas vieram conhecer a escola em questão.
A mobilização da Escola Alexandre Quirino de Souza, possibilitou para o entendimento desses povos, o reconhecimento da sua cultura. A verbalização dos pré-conceitos arraigados em relação ao índio despertou a curiosidade e quebrou paradigmas, corroborando assim para troca e manifestação intelectual e artística das comunidades em questão, bem como o reconhecimento dos povos indígenas e de seus direitos.
Para a comunidade Porto-alegrense foi um momento de grande aprendizado e de troca simultânea de culturas. A preservação da língua, a vida comunitária, os costumes, o gosto pela arte e, o jeito de lidar com a natureza, são fatos observáveis e marcantes no povo Tapirapé.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Código Florestal: derrota humilhante


 por Roberto Malvezzi (Gogó)
A derrota não é só política. Ela é, sobretudo, a derrota do bom senso, da decência, da ciência, da defesa das bases naturais que sustentam a vida digna de um povo
A derrota imposta pelos ruralistas ao conjunto da sociedade brasileira, ao aprovar o novo Código Florestal (Código dos Ruralistas) é a mais humilhante que já conheci nesses 35 anos de militância social. Nunca, nem na ditadura, a sociedade foi humilhada dessa forma.
Eles conseguiram absolutamente tudo que queriam. Essas últimas questões são periféricas diante do que era realmente o objetivo: reduzir a área de preservação permanente nos grandes rios de 500 metros para 100, numa gradação proporcional até rios menores, agora com exigência de apenas 15 metros. Nem vamos falar das encostas e propriedade acima de quatro módulos.
Com essa mudança legal, não só "consolidam" a área agrícola - como eles dizem -, como não pagarão uma única multa dos crimes ambientais que cometeram. É uma vitória arrasadora sobre nós e sobre as gerações que virão nesse país.
Os governos de plantão sabiam que no Congresso eles são maioria. Por isso, poderiam ter buscado outros caminhos, como um projeto elaborado por cientistas, que fosse a plebiscito, ou a referendo. Poderiam ter aproveitado a vontade de 80% da população brasileira contra a mudança no Código. Preferiram o caminho restrito do Congresso, porque, na verdade, no fundo, concordam com o que foi feito.
A derrota não é só política. Ela é, sobretudo, a derrota do bom senso, da decência, da ciência, da defesa das bases naturais que sustentam a vida digna de um povo.
Judas se vendeu por 30 moedas de prata. Alguém vendeu o país por uns 30 kg de soja.

Roberto Malvezzi (Gogó) é assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT)